sexta-feira, 23 de junho de 2017

Presença




















Para o tempo em ti meu peito aberto
Sem me esquecer jamais do teu carinho
Que loucamente anuncio meu destino
Dar-te para sempre minha alma ao teu ninho.
Se cabe em ti minha alma inteira, que
Em teus beijos minha carne sucumbia
Mas cabe ao tempo, esse operário da vida
Desfigurar minha voz e a tua, desencontrar-nos.
Dou-te em louvores este poema nascente
Para que te lembres de mim ao ocaso da mente
Mas em finitude, o brejo das dores, que antes
E mais agora, ainda, dói-me a corrosão latente
Dos sonhos. Teus braços a enlaçar-me no passado
É o sentir-me vivo no presente. Aurora finalmente
É o meu presente a ti, este poema, que vivo será
E eternamente a ti ele diz respeito: sou teu.
Sou teu na manifestação do desejo de mais.
Sou teu, sou teu, sou teu além da vida e das palavras
Aladas destes versos que cantam a dor e a alegria
Sou teu, para sempre teu, pois minha alma sempre foi tua.


(23.VI.2017 – Ijuí)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Elegia


Antecâmara da alma
Volátil e etérea
Em que a veia sanguínea
Necessita o sumo da terra

E quando a atmosfera rasgada
De gritos, composta então de cor
Saborosa, o ouvido parte
Para outro suporte de alucinação

Posto que outrora o canto
Alegre, se faz hoje o canto torto
Como o anjo em minha janela
Perscrutando os meus anéis
E sentindo o lençol de seda

Antes quisera eu ter contato
Celeste com a entidade angelical
Mas atiro-me por sobre o passado
E naufrago na página em branco
De um poema que eu nunca

Nunca no horizonte em brumas
Nunca no paraíso de meus dotes
Nunca na força de meu pulso
De um poema que eu nunca escreverei

Uma antecâmara da alma
Subtraída de meus medos e pesares
Essa que manifesta os desejos mais humanos
E sufoca o eco, oco coração nascido
Do vento, coração nascido do vento

Como se eu já me fizesse anjo
Antes mesmo de entender o criador
E a fase humana esquecida
Passa de dor a ar apenas

Creria em mim humana e atenta
O que diria o anjo em tua vida?
Quem sabe eu cantaria, mas não

Atinjo o anjo sobre minha janela
Esse que perscruta o ouro de minhas mãos
Antes mesmo de me saber humano
Ou de em loucuras noturnas de quimeras
Sorver o soro cáustico do desespero
E morrer sem ter escrito estrofe sequer

(01.VI.2017 – Ijuí)