sexta-feira, 27 de junho de 2014

PRESSÁGIO

Pergunto a ti, depois de crido,
onde é que mora o Desejo?
Responde-me, anunciando alto,
que vácuo agudo é a sua morada.
Mora o Desejo, também, na confluência do ocaso,
perdido e vago, nas andanças amargas da vida!

Se por além do muro vejo um rato:
bestializado (objeto místico)
ser retratado e musicalizado.
Além do muro serei eu um rato sujo.

Mas a causa maior desta vida alheia;
a Morte em casa descansa os pés num banco
por estar, de leito em leito,
buscando a alma deles — dos outros —
e a mim irá buscar, no além-mar,
(candura e música), quando me fizer
estar completo, repleto de paixões mundanas,

sem mais ter por onde navegar na manhã fria.


(27/06/2014 – Ijuí)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

NUDEZ

São marcas da vida e de amor
em minhas lascas, couraça humana,
candura temporária de tempero e hortaliças.

As marcas de dentadas, com resquícios de sangue
escarlate, ora vertia ouro líquido:
agora é apenas piche o que outrora
ardia lava incandescida em minhas veias.

E do terreno vertiginoso,
ao alto da montanha branca,
a neve derretendo por sob meus pés:
nada poderá fazê-la congelar em meu corpo
jubiloso, tenro, sumarento.

Além dos canaviais do nordeste,
às plantações de trigo, ali pelo sul:
sou todo arrepios doentios.

Pois, tendo tudo isso em mim estado,
nunca gritei angústias malfadadas.
Agora arranco meus cabelos rarefeitos
para despir meu corpo nessas verdades.

(25/06/2014 – Ijuí)