domingo, 19 de janeiro de 2014

JANGADA SEM MAR

É noite alta.
Lá fora o mar bole mansinho.
Dentro das casas todo mundo dorme,
e o coração sangrando morre.

E a dor é tanta nessa imensidão negra.
O rubor do meu sangue na profana e pestilenta
rede de dormir, atada nos galhos do tempo.
O sentimento com o remo, (seus braços remam),
cantarolando a canção antiga
das sangueiras de amores, em voz lenta.

Sibilantes sílabas de carne e sangue.
A voz afável e sonolenta da canção antiga.
Ao som da vitrola cantando a bossa nova
eu te imagino desfilando em Ipanema.

Ainda não amanheceu o dia,
nem se acalmou meu coração doente.
As flores, por tempo, ainda não floresceram.
Mas em breve, fatigado, negociarei meu fim
nesse amor que sinto de ontem, hoje e o sentirei sempre.

(19/01/2014 – Ijuí)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

NEVOEIRO

Meus olhos cerrados
Participantes dessa dança macabra
De olhos e ternuras marginais
Que não cabem em minhas pálpebras longínquas
Não estão contentes em apenas permanecerem
Nessas órbitas profundas marcadas pelas olheiras ancestrais.

Se de nada pode o olho aberto ser real.
Se não pode o olho ardente ser puro.
A dança macabra, essa orgia ocular
Só pode ser além do pó e além da vida

O visgo oculto da luz do dia
E o ar perfumado da carne tua
Na densidade profana da noite fria.

Por entre tamancos e sapatos, a frialdade
Densa de uma manhã chuvosa e sumarenta
Se fazendo carne etérea em meio à lava.
E a labuta diária na escrivaninha do escritório
Com as folhas espalhadas e molhadas da tinta do café.

Se me soubessem ser os olhos entreabertos
Poderia ser o corpo e sua roupagem
A metafisica do colarinho

E a margarida dos lindos olhos o figurino.


(09/01/2014 – Santa Maria)