domingo, 31 de julho de 2016

um corpo morto












um corpo morto
apenas um corpo morto
com gengivas e braços em sangue
quando os cortes abruptos romperam as veias
e o corpo morto transcendeu
metamorfoseou-se em éter
e passou a viver nas masmorras da memória
quando o lembrar é místico
e o armamento pesado é feito de ossos
cartilagens e vozes roucas e deslocadas.


(31/07/2016 – Ijuí)

domingo, 24 de julho de 2016

o que resta à vida















o que resta à vida senão o canto?
este canto que ninguém compôs
mas que as mãos do tempo teceram
o fino manto do tempo à vida, ao mundo
e estando mudo ao firmamento
aves multicores ao arrebol
não sinto medo, nem asco
sinto o amor se esvaindo ao surgir da noite
o sangue sem corpo
o assassínio sem cúmplice
a morte sem dano.


(24/07/2016 – Ijuí)

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Adoração














“Caminhar por entre o mundo quando tudo o que tanto se procura é um bocado de paz; a paz ancestral, animalesca até, de onde quando se faz verdade a mentira que tanto se acredita. As muitas doses de nada a se fazer, mesmo quando nos precipitamos à beira do abismo do intelecto enferrujado, a boca enferrujada, os olhos opacos e rudes, a voz muda contida dentro do peito quando queremos aquilo que não necessitamos. Deveríamos estar em busca do amor pleno, sem bajulação, sem meias palavras, sem fingimentos; o amor que nunca sentimos, mas que ouvimos falar nas histórias antigas. Seremos realmente livres quando o amor for a força principal em atuação nas nossas vidas. Livres não porque somos amados, mas porque finalmente descobrimos o verdadeiro ato de amar; o amor que ainda habita o nosso íntimo, redescoberto.”


(18/07/2016 – Ijuí)

Gritei teu nome à chuva

















Gritei teu nome à chuva
e a resposta foi o retumbante eco
não sei exatamente onde estou
apenas penso no tempo
e nas letras do que ecoou.

Calabouço repleto de ossos
ossos humanos desfigurados
o sangue coagulado e doce
que escorrera das feridas
hoje apenas serve de ornamento.

Onde andas, perdida será?
o firme ressurgir da história morta
o teu nome em eco à chuva
retumbando em minha mente
e a fotografia que postada estava
em minha escrivaninha
minha maior fonte de inspiração
evaporou como as lágrimas
em meu colarinho branco
derramadas todas às vezes
que o eco chegava aos meus ouvidos.


(18/07/2016 – Ijuí)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Motivação noturna é a coragem



















Motivação noturna é a coragem
de estarmos bem consigo mesmos
de sermos a nossa própria gente
clepsidra noturna do passar do tempo.

E eu não desconheço o conceito de verdade
sou o maníaco desmesurado do dia e da noite
principalmente da noite quando o orvalho
se forma e a forma é estarmos completamente livres.

O outro dia que talvez não chegue
a louca, alucinante noite que se desfaz
aos goles do álcool, quando realmente somos
o que realmente suplicamos ser.

A movediça massa corpórea que passa
mas carregando a inspiração que nunca se finda

o corpo se deteriora, porém a alma fica.

(14/07/2016 - Ijuí)

terça-feira, 5 de julho de 2016

Andando por vielas escuras














Andando por vielas escuras
o nada se fazendo presente
estarrecido de vazios
a boca queda aos ruídos
sangue sangue sangue
desconhecemos a sina
dos corpos à noite.

E a pergunta não cala
suplica uma réplica
mas não conhecemos
o assunto, bestas eternamente
não duvidamos, mas
também não acreditamos
a verdade é um corpo violado.

Teme-se a vontade
quando o corpo emanado
em suspiros derretido
some e aparece, rezo uma prece
e passamos a crer
assuntos particulares
amores de alcova
vozes emudecidas
pranto dor e queda
finalmente.

(05/07/2016 – Ijuí)