sábado, 22 de julho de 2017

Simbiose























Além dos limites que me delimitam:
A pele de meus dedos que ao sabor do toque
Endoidecido decido para o que nunca mais
A dor resplandecente do porvir seja e sempre seja
A minha morada na tua carne em simbiose
Para que juntos fiquemos a olhar o pôr do sol.

Mas caberá à pele de meus dedos
Sorver a alvura da tua epiderme.
E o calor das tuas células em ebulição
Cabendo ao meu faro de poeta
Olvidar o passado
Passando a prever o futuro
Dos teus aos meus dedos em frescor.

Mas sou eu réu frente ao júri e ao juiz
Do universo todo contido em meu canto
E este ninho de rancor em sua partida
O medo arguto da derradeira despedida
Torna-me o ser mais vil do mundo todo
Porque egoisticamente perante a vida
Quero-te eternamente junto a mim
Quero-te sim comigo do sempre ao sempre

Com a voz rouca e a pele flácida dos anos
Consumir o amor e as rosas e o vinho
Para mais tarde sermos consumidos em nós mesmos

No limite da pele, adentrando nossas células simbiontes.

(22.VII.2017 — Ijuí)