quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Ato












Sob a luz do astro em um rosto
Singelo se faz humano e redimido
Com o corpo, com a força que nos faz
Sermos e termos a essência primitiva
Do sangue, em se fazendo o sumo.

Árvores negras ao nascer do dia
Voz de rouquidão terrena quando
O toque de ser humano; celeste
Se faz o momento ao observar
Arbustos ensanguentados ao anoitecer.

O verde da relva que cresce debaixo
De nossos pés é o mesmo verde
Que existe na inexistente alma
Do homem que mata, mista de cores
Amanhecidas na porta da jaula
Em que habitará o corpo posto
Antes do amanhecer no necrotério.


(26/12/2017 – Ijuí)

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

L.














Dói, sim, em mim,
coração descompassado
quando vai embora,
quando diz que não tem mais.

Dói coração estraçalhado
quando uivo de insânia
beira minha janela;
quando à noite em pedaços
digo teu nome. Vem
ao meu encontro e
diz que eram apenas bobagens,
que a aventura continua
e o amor não se findou.

Mas cabe a mim sofrer
a solidão humana do caos.
Cantar e compor e dedicar
meus versos ao teu nome santo
que me desfaz, que atormenta
a minha sanidade quando
toco tua tez macia e
beijo-lhe as mãos, despedida.

Dói coração humano, acorrentado
de poeta moribundo
quando anuncio que em mim
sofre corrosivo o ácido da vida,
e que em tua despedida
anuncio minha partida
para outra estação, o trem...
O trem dos anos que virão
e eu em minha pequena reclusão
espero ouvir teu nome, anunciar,
em meus ouvidos ensurdecidos
e pedir-lhe perdão.
Perdão por sentir tanto
e traduzir pouco em meus gestos
a tua faze de sentir o meu
eu no teu em simbiose
sofrendo hoje o mal que plantei.
É tarde, é tarde, é tarde...

... para dizer que para sempre te amarei.

(10/IX/2017 - Ijuí)

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Árula Final



















Não posso dizer que exagero é
Minha forma de amar.
Se à noite, em meus sonhos
Tua voz, meu consolo, se põe a cantar.

A cadência da vida, quando a mente
Alucina, e meus olhos despertos
Anunciam tua vinda, quando mais
Preciso, de um só único motivo...

Te amar.

E falar em verdades, usar da palavra
Minha métrica perfeita, de se dizer
Que hoje mesmo preparo-te a ceia
E juntos novamente nos pomos para...

O amor.

Em justa medida, em sonhos
Ou insânia total, posso dizer
Que hoje mesmo, sou eu imortal.
Em banhos de bálsamo, meu cheiro

Teu cheiro, nossos corpos enlaçados.
Fazermo-nos unidos, por um só trabalho
E a noite que finda, aurora do dia
Percebo que realmente...

Sempre estive só.


(12.VIII.2017 – Ijuí)

sábado, 22 de julho de 2017

Simbiose























Além dos limites que me delimitam:
A pele de meus dedos que ao sabor do toque
Endoidecido decido para o que nunca mais
A dor resplandecente do porvir seja e sempre seja
A minha morada na tua carne em simbiose
Para que juntos fiquemos a olhar o pôr do sol.

Mas caberá à pele de meus dedos
Sorver a alvura da tua epiderme.
E o calor das tuas células em ebulição
Cabendo ao meu faro de poeta
Olvidar o passado
Passando a prever o futuro
Dos teus aos meus dedos em frescor.

Mas sou eu réu frente ao júri e ao juiz
Do universo todo contido em meu canto
E este ninho de rancor em sua partida
O medo arguto da derradeira despedida
Torna-me o ser mais vil do mundo todo
Porque egoisticamente perante a vida
Quero-te eternamente junto a mim
Quero-te sim comigo do sempre ao sempre

Com a voz rouca e a pele flácida dos anos
Consumir o amor e as rosas e o vinho
Para mais tarde sermos consumidos em nós mesmos

No limite da pele, adentrando nossas células simbiontes.

(22.VII.2017 — Ijuí)

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Presença




















Para o tempo em ti meu peito aberto
Sem me esquecer jamais do teu carinho
Que loucamente anuncio meu destino
Dar-te para sempre minha alma ao teu ninho.
Se cabe em ti minha alma inteira, que
Em teus beijos minha carne sucumbia
Mas cabe ao tempo, esse operário da vida
Desfigurar minha voz e a tua, desencontrar-nos.
Dou-te em louvores este poema nascente
Para que te lembres de mim ao ocaso da mente
Mas em finitude, o brejo das dores, que antes
E mais agora, ainda, dói-me a corrosão latente
Dos sonhos. Teus braços a enlaçar-me no passado
É o sentir-me vivo no presente. Aurora finalmente
É o meu presente a ti, este poema, que vivo será
E eternamente a ti ele diz respeito: sou teu.
Sou teu na manifestação do desejo de mais.
Sou teu, sou teu, sou teu além da vida e das palavras
Aladas destes versos que cantam a dor e a alegria
Sou teu, para sempre teu, pois minha alma sempre foi tua.


(23.VI.2017 – Ijuí)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Elegia


Antecâmara da alma
Volátil e etérea
Em que a veia sanguínea
Necessita o sumo da terra

E quando a atmosfera rasgada
De gritos, composta então de cor
Saborosa, o ouvido parte
Para outro suporte de alucinação

Posto que outrora o canto
Alegre, se faz hoje o canto torto
Como o anjo em minha janela
Perscrutando os meus anéis
E sentindo o lençol de seda

Antes quisera eu ter contato
Celeste com a entidade angelical
Mas atiro-me por sobre o passado
E naufrago na página em branco
De um poema que eu nunca

Nunca no horizonte em brumas
Nunca no paraíso de meus dotes
Nunca na força de meu pulso
De um poema que eu nunca escreverei

Uma antecâmara da alma
Subtraída de meus medos e pesares
Essa que manifesta os desejos mais humanos
E sufoca o eco, oco coração nascido
Do vento, coração nascido do vento

Como se eu já me fizesse anjo
Antes mesmo de entender o criador
E a fase humana esquecida
Passa de dor a ar apenas

Creria em mim humana e atenta
O que diria o anjo em tua vida?
Quem sabe eu cantaria, mas não

Atinjo o anjo sobre minha janela
Esse que perscruta o ouro de minhas mãos
Antes mesmo de me saber humano
Ou de em loucuras noturnas de quimeras
Sorver o soro cáustico do desespero
E morrer sem ter escrito estrofe sequer

(01.VI.2017 – Ijuí)

quarta-feira, 24 de maio de 2017

existência



clamar o som
agouro de nosso tempo
a voz do vento
o gosto do encanto
e mesmo que ainda pensemos
que outrora a existência
em nosso meio
hoje somos o reflexo
em um espelho quebradiço
e completar a cor do viço
e suprimir a fome de dor
e suplantar em nós o som
serviremos ao mundo
o grande e solene mundo
a voz calada de uma geração
que tanto tenta gritar
mas o oco da voz faz da foz
um regato ressequido e vão
que tanto alimentara a alma
de incertezas e cru demonstra
que quando o Ser entra
na dança certamente fará
a bagunça eterna e libertária
de se poder dizer: eu ainda existo


(24.V.2017 – Ijuí)

quarta-feira, 3 de maio de 2017

canto os esquecidos


canto os esquecidos
esses que caminham errantes
sempre à beira
os que margeiam o rio
sonhando
chegar ao outro lado
e o canto perdura
a rouquidão de minha voz descompassada
sem tom
timbre de grito e de revolta
traduzida por palavras incompreensíveis
somente quem entende a dor entenderá
e o remanso
e o som da percussão
um repicar de sinos
meia hora ou hora cheia
vazios
o gosto de um toque ao peito
a voz que persegue o mundo inteiro
é o som que se capta ao redor
de uma realidade que ninguém vê

(03.V.2017 – Ijuí)

sexta-feira, 14 de abril de 2017

À beira do Tejo


À beira do Tejo vejo
Vejo à beira do Tejo
O perfilar de sonhos sumarentos
A movediça crença de abundantes
Forças correntezas mil movimentos

E quando em visita
Puder ver o semblante
Ou o vulto da aurora
Minha vida ao Tejo derramando

Saberei que quando ali estiveres
Depositarás o verídico lanceio
De um crepitar de folhas outonais
A virtude de um amor transcendental
Quando à beira do Tejo
Marcarmos o nosso reencontro

E mesmo que eu esteja mudado
E mesmo que tu estejas mudada
E mesmo que o tempo seja outro

À margem do Tejo nos amaremos
Sob a luz da lua em nossos corpos
Eternizados em momentos quais
Não mais exatos e sim perfeitos

Manifesto o poderio grandioso de um rio
De amores e verdades em nosso meio
Da América à Europa eu me proponho
À beira do Tejo meu amor inteiro


(12.IV.2017 – Ijuí)

sábado, 8 de abril de 2017

Presente














Aliado à trégua momentânea
Sepultada a monada à existência

Por um último véu de suspiro
A vida se esvaiu em mil torrentes

Veio-me o sopro decadente
Mas ao teu semblante a vitória

Finalmente desfalecerei em paz
Por ter fitado com meus olhos

A santidade de tua tez clara
A tua voz de candura mais

Que em meus sonhos havia sonhado
E que agora concreta em meus ouvidos

Escutara. O infinito de um momento
Um tanto de nostálgico encantamento

Um tanto de vontade roubar-lhe
Um beijo sumarento. Sede do teu gosto

Paz no meu repouso. Ânsia de um devir
Que permanente faça de mim

O que nunca imaginara ser no meu amor
Em ti, em ti a mim hoje e sempre

(08.IV.2017 – Ijuí)

quinta-feira, 9 de março de 2017

Batom












Cansada boca trêmula
Tremula ainda mais
quando desfeitos em teus lábios
os meus fadados ao cansaço

Antes de rarefeito ar
a mente expandindo-se profana
por sobre as ondas do mar
que fazem do meu corpo
a ebulição sanguínea
Ondas rubras, auréola
a membrana ocular rompida

E mesmo que andemos
pelas veias sanguíneas
de nosso país destituído
olhemos para o horizonte
e apreendamos dele aquilo
que tanto havíamos sonhado

Cansada boca trêmula
que tremula ainda mais
quando desfeito do cansaço
beijo ainda mais loucamente
os teus, enrubescidos
ainda que sem a tinta
encarnada do batom


(05.III.2017 – Ijuí)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

restos do passado














abutres sobre o corpo
oco, eco, vermes e sal
sede, sede, sede
de teus lábios quentes
de teu corpo despido sobre
pétalas ornamentadas de tinta
e sumarento caldo corpóreo
sou o reflexo da solidão e desamor

saber musas: uma só
quando o nome também
se faz de um apenas
efervescendo o sangue
no instante da memória metafísica

maldito amor que renasce
esse que a maldita semente
nunca se esquece a germinar
e no instante do fato se consumar
era sonho, sonho bom, maldição

abutres sobre o corpo
ranger de dentes agudos
o mar é tão distante, e eu nem sei mais
pois da dor pungente, e lancinante
teu nome surge em minha mente
não sei, não sei de grito, ou choro
a autodestruição do corpo
dentro de uma claustrofobia orgânica
estando aprisionado em um recipiente
quando gostaria de estar, em ti
ao menos um sopro e sangue nas gengivas

maldição dos tempos de ontem e do amanhã
abutres famintos, perseguindo o odor
de sangue novo, dilacerando a carne até os ossos
sou resquício de um vício que nunca existiu realmente

morte ao amor, morte ao amor
se ele existe, morte ao amor
se eu desisto, morte ao amor
se eu ainda te amar, morte ao amor


(28.II.2017 – Ijuí)