quarta-feira, 28 de agosto de 2013

CALAMIDADES CORPÓREAS

É por calamidades corpóreas (as vísceras gosmentas
Com sangue, para fora do corpo, e o rasgo... O rasgo
Que com a navalha ainda afiada me fiz no ventre
Por assim dizer) que vi minha forma interna.
Vi meu corpo em completude, modesto e escarlate

Lodo enrubescido, meus intestinos... O verdadeiro nó
Que com tal dor de se sentir repleto de desejo
Pude tocar o meu próprio modelo... O âmago do humano
Senti meu sangue coagulado em meio à imensidão da areia
Mas com tal desejo não posso mais sentir o vento a soprar
Nessa leve manhã de verão. Praia. Sol. Carnificina

E nesse momento eu vos digo: Vi meu entremeio
Vi minh’alma em corpo celestial, morte-que-sinto
E assim, ainda vos digo caros leitores, aonde o tempo
Me levar, o que me resta: O sangue não me diz
A baba púrpura que agora me escorre no canto da boca
Não me diz... E o que eu buscava, as respostas no rubro
Essas


(28/08/2013 – Ijuí)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

IMPOTÊNCIA

Sonhei com os tempos aqueles
Em que viver era mera coincidência
Sabíamos ser o que deveríamos
E o horizonte era paisagem para as telas.

Sonhei com os tempos aqueles
Que, eu sei, nunca existiram.
Sabendo sonhar um passado destruído
Deformado. Meus pés a tua frente
Sofrendo, os calcanhares nos cacos de vidro.

A dor.

Aguda ferida encarnada no coração.
Ausente forma, linguagem do corpo
A libido constituída em pele e osso, lasciva.

Sei bem, que onde o corpo se fizer paisagem
Miragem será o prazer, uma árvore de orgasmos.
O pássaro do prazer que pousará em meu sexo
Pelo pudor de estar nu, mesmo não estando.

O tempo das derrotas na cama:
Faz-se presente.
Impotente, faço-me homem.
HOMEM ao invés de ejacular feito um cavalo.


(27/08/2013 – Ijuí)

sábado, 24 de agosto de 2013

O ETERNO NASCER

Eu nasci quando nasceu o mundo.
Eu sou capaz de renascer todos os dias
Dentro
Fora
Do compasso com que o mundo gira.

Nasci dentro da canção da aurora
Aos gritos agudos do sol em minha janela
Às serenatas lunares elevando cada fase da lua.

Eu não sei quando morrerei:
Talvez durante esse gole de vinho
Talvez na chuveirada do final do dia.
Quem sabe?

Eu nasci quando as estações do ano eram simultâneas.
Eu nasci e vi a primeira reprodução das bactérias.
Eu vi a origem...

Percebi com meus olhos de cão medroso
Os anos passarem
E a minha pele insistia em não envelhecer.

Agora
Depois de séculos, percebi
Que a minha vida é constante
Em cada palavra de que eu escrevi.

Minha vida é o constante nascimento da poesia.


(23/08/2013 – Ijuí)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CERNE

                        De um soco
Deixo a mente inebriar-se das formas poéticas
                        Maldito solavanco
                        Feito um louco
E deixo, também, as partes
                        Fumegantes
Do rabo de fogo em meus cabelos negros
O óleo viscoso da saliva quente

                        Mar dos meus pulmões
                        O sopro
                        E mais nada
Mar da minha mente um tanto quanto delinquente
                        Vendo
As miragens diante do vidro do carro
Sendo brutalmente deformadas e contorcidas
                        Restando-me o pó
                        Deserto em minha fronte
Versos de podre poesia, antiga, sendo corroída e maltratada
Por entes que, desconhecendo as artimanhas da linguagem, as deformam

                        Mas
                        Na labuta pela pura poesia
                        Renovada
                                               E
                        Limpa
Fui um sopro, apenas, mais que eco, mais que lentamente, rápido
Delinquente das palavras
                        Meu alter ego
                        Ébrio e psicótico
Que continua vendo fantasmas
                        Mas nem
Por isso deixa de sorver a poesia de cada alucinação do momento

                        E
Se nem forem os caminhos da mente
                        Àqueles
                        De quem nos dispersamos
                        Flutuando às nuvens
Navegando os mares da consciência medíocre de um ser corroído pela sífilis
                        A maldita
Uma vontade de usurpar as formas puras
E as formas lícitas de um ser sedento, além do mais
                        Profilático

                        Nada das mesmas
                        Horas passadas em coma
(Modo de hibernação
                        Instantânea)
Devemos sorver o líquido poético de cada verso
Contido na vida de poesia adquirida por cada poeta

                        Vivamos
                        Meus amigos, vivamos
                                                                       (A era da impunidade
                                                                       A era da velocidade)
                        Vivamos
                        Meus amigos
Mas lutemos contra o fluir
                        Lutemos
Pela loucura fatal
Total
                        Lutemos
Pela verdadeira vida-poesia
                        Lutemos
Realmente, pela cultura dos ossos
                        Lutemos
Pela capacidade que temos de aterrorizar o presente
E de usufruir antecipadamente o gozo futuro
                        Lutemos
                                               Meus amigos
                        Já é tempo
A vida não terminou

Salvaremos o mundo da derradeira morte intelectual?
                        (Morte contada
                        Morte ejaculada
Do monstruoso penhasco da mente pobre de cada ser perdido no caminho)

Que naveguemos o vento da renovação
                        E criemos
            Uma nova poética da ação

                        Poesia
                                   Sempre haverá poesia.


(22/08/2013 – Ijuí)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

EXÍLIO

É pela ínfima coisa que eu me apaixono
E derreto amores por ela. Se não for
Apenas um gesto, verbo-pedra, crucifixo.
Apenas um momento ameno, gozoso
Sumarento de verão, ácido de inverno.

Calculo mentalmente a forma mais simples
De contemplar a poesia. Poética de carne
Estrofes de sangue, versos de ossos.
Poesia mista de algodão e lã para, na madrugada
Aquecer. Relembrar a paz da vida nas palavras.

E é, também, na noite frutífera de meus versos
Que me deleito da música, do vinho e do queijo.

Manifesto minha sede poética pela rima rica
E anistio as minhas palavras do nefasto exílio.


(19/08/2013 – Ijuí)

domingo, 18 de agosto de 2013

MERETRIZ

Meretriz dos olhos negros
Negros como a noite densa.
Meretriz das minhas noites mornas
Seu corpo, sob o meu, dança.

Nada mais me aquece o corpo
Nem mesmo as mãos sedosas
De minha esposa na alcova
Se igualam as tuas, meretriz
Que são mãos da carne, vaporosas.

E esse corpo tão perfeito
De perfeição mais atenta
Solta esses longos cabelos
E ouve-se que a noite venta.

E os nossos jogos do corpo
Por sobre os lençóis de seda
São jogos de carne e sangue
Jogos de noite e tormenta.

Quando, na noite santa
Lembrar-me da carne profana:
No peito um coração habita
Sem sangue; há uma fenda.

(18/08/2013 – Ijuí)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

MERGULHADOR

As chamas do destino, o improvisado
Som descompassado de minha alma
Cadente, que some e reaparece em meu corpo
Desconstruído, minúsculo e sem forma.
A voz de minhas palavras que molham o papel.
A voz de minhas palavras que mancham de tinta
A cor do branco. Pedaços de um caderno
Rasurado e manchado de tinta vermelha
Sangue de poeta. Sangue de quem luta
Bravamente por uma causa sem solução.
A alma de quem não precisa de explicação.
Eu vi o meu eu caído e destruído pedindo
Ajuda sem ter nem a mim, para que no escuro
Do momento lhe estendesse a mão.
Eu vi a minha poesia sendo reduzida
A cinza, as folhas finas e caras sendo destruídas
Pelas chamas do presente, e o invólucro
De plástico sendo derretido e manipulado
Por uma ideia de quem nunca nutriu
A maior paixão de sua vida, para ser
Um manipulador do fogo amargo
Despudorado, queimando a alma
O espírito e o corpo para esquecer
Quem amou, e a paixão de nunca mais amar.
Embora seja o sonho um objeto de decoração
Saltarei dos abismos do cérebro, ao fio
D’água que me levará ao vale dos pensamentos
Onde nunca, nunca ei de recompor os erros
E, sim, buscarei nova inspiração
Para minha obra prima. Uma poesia blindada...
A prova de fogo... Úmida... Tingida... Viva...
Em que eu possa mergulhar novamente à realidade
E me entregar às causas perdidas
Flutuando o mar da insanidade. Bebendo
E comendo dos suspiros de minha mulher
Deitada na cama. Sem pressa de se dizer.
Sem pressa de se refazer poeta. Sem pressa
De se formar em um corpo que ainda não possui forma.


(15/08/2013 – Ijuí)

terça-feira, 13 de agosto de 2013

TERNURA

Se te engrandeço, amor, em pensamentos
E se a cada gesto meu toda a leveza
Se faz mar e brisa, apenas. E se no ocaso
Ao acaso um beijo enterrar nos lábios teus
Amor, o tempo se faz como se fazem as marés.

Meu bem te faço como quem imagina.
E a grandeza de cada súplica, e o desejo
E o som coloquial dessa turbina-coração
Fazem de imaginação a imagem real
De quem te suga, de quem te sonda
De quem te presta. E a cada gesto teu
Em minha mente, faz-se a primavera
Em meu jardim de tulipas, e a cor
Da imaginação em cada ato dessa peça.

Meu amor se achegue e me tome agora
Para que na eternidade eu nunca me esqueça.


(12/08/2013 – Ijuí)

MISTICISMO DO VERBO

Minha beirada mística.
Sua face mira e vê a minha face
Única, ungida. Minha face de pedra.
Uma máscara grega. Felicidade?

Minha beirada sendo continuamente
Atormentada por esses cus do universo.
Minha forma universal de ser alguma coisa
Sem nome, sem identidade... Perturbada
Por todas as incompreensões de críticas
Ritualistas, sem exatidão, mas a crença
No impossível do tempo, se faz ao pó
E ao orvalho simultânea. E nem mesmo
Por isso, deixo de mirar e ver seu rosto
E a epiderme úmida e lisa como a seda.

Mas minha beirada mística escorregadia
Deixo-a me levar para cair ao mar das palavras
Incompreendidas e inexistentes, para que eu
Possa, no futuro, deixar de existir e me tornar

Parte de um mundo imperceptível aos olhos
De quem jamais acreditou nas sombras do verbo.


(11/08/2013 – Ijuí)

domingo, 11 de agosto de 2013

EBRIEDADE LÍRICA

Ao passar do vento
Assim, em minha janela
A lua um tanto torta
Lá fora
Canta a mais bela canção de amor
E foi por ela que me apaixonei.

Lua, tão bela tu és!
E tão distante deste corpo degenerado
De mente ébria
Sem medo mais dos corvos
E dos vermes
Habitantes de suma importância
Em minhas carnificinas
Deteriorados pelo sangue podre
E depois de tanto sugarem o corpo
Permanecem, ainda, famintos.

É, luar, a vida passa
E não tarda a morte. O lobo a uivar
Outro amante da Lua
E companheiro meu das noites sangrentas
Onde a Lua longínqua chora
De amor, de saudade e de pena.

O som oco ulula e retumba em meus ouvidos
E em meus poros da epiderme fina
E ressecada
Sem contato com a luz do sol
Comunicativa, cada vez mais, com o brilho da Lua.
E essa Lua cheia de sangue pulsando
Derramando do céu o resquício
Desse podre sangue amigo
Sem amor, cuidado ou sentido.

Perde-se na mata de meus cílios
A gotícula marcada de uma lágrima.

Mas de lágrimas puras e indefesas
Prestes a se secarem no colarinho
De um corpo seco, vivendo e evidenciando
Um mundo sujo, a pureza dessa lágrima
Sofrida e usurpada
Sofre, mais ainda, por ser ela destacada
E agora sendo dita: filha única.

Choro com a alma o meu Lirismo
Pois pai do amor e da saudade
É o nosso Tempo, deixo com ele
O meu sofrimento. E ao meu Lirismo
Deixo o meu contentamento
O meu tempo presente
E as lágrimas verdadeiras e puras
De um sonho, de um amor, de uma vida.

(11/08/2013 – Ijuí)

sábado, 10 de agosto de 2013

ANALEPSIA

Anestesia.
Doses cavalares de soníferos agudos.
Maldizeres de um amor passado.
Crônicas da passagem do tempo.

Febre.
Suores ao por do sol.
Cansaço, dengo, afago.
Um som abrupto, repentino.
Ao ouvir a nona sinfonia de Ludwig Van
O êxtase extremo de um orgasmo infinito.

Dores.
Tosse; escarro rubro de sangue novo
O vermelho de uma bandeira à liberdade
A foice e o martelo.
O dom de se fazer presente na revolta
Dos neurônios de seu próprio cérebro.

Manchas no corpo.
A dor da perda do amor
Pela dor da perda da batalha.

Um ser morre, mas
Noutra aventura de vida, ele renasce.


(10/08/2013 – Ijuí)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

TEMPO DAS UVAS

A voz do tempo, suculenta
Entoada aos meus ouvidos em muitos momentos

É a voz da sanidade pedindo aconchego.
Essa voz compacta, às vezes dura

Acomoda-se ao lado de nossa janela
De vida e nos diz:

“Acolha-me agora
Pois já é o tempo das uvas.”

Nesse momento apeguei-me
Ao sacudir dos vinhedos na campina.


(05/08/2013 – Santa Maria) 

SONATAS, SUORES E ALUCINAÇÕES

É por sonatas sonoras que eu me deleito
Ouço e deito.
É por mimosas flores de laranjeira que no laranjal
Alimento meu peito de sumo. E no roseiral
Ativo meu instinto, tudo natural.

Se for por sonatas que a minha vida se manifesta
Ouço, ouço. Meu Deus! Que peça
Pregou-me o corpo tão ardiloso
Que com ardil meticuloso
Ensopou-me o peito de certo nojo.

Que nojo este, não me convém.
Depois de certo desdém
A música vier povoar
De ardis o corpo e a mente
Vivendo assim, sapiente
Precisando mais e mais
De um som, por assim dizer, a encantar
A viscosidade do corpo
Entre as almas a se chocar.


(05/08/2013 – Santa Maria)

domingo, 4 de agosto de 2013

POETIZANDO

Não me detenho
Neste verso.

O reverso da folha –
Uma almofada de espuma.

O corpo do poema
Se confunde

Com o corpo do poeta
E o seu coro

Agudo de quem,
No dia azul-cinzento,

O poema
Se faz presente

Tanto no dia
Como na noite.


(03/08/2013 – Santa Maria)