quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Aura













Quando a olho,
Nem por isso muitas vezes a vejo.
É o sentir-se condensado,
Manipulado arduamente,
Para que na pouca distância
Meus olhos sejam capazes de ver.

E meus olhos cegados, tentam ver pela audição
Sua voz loquaz, singela,
Mas mesmo assim não vejo o que dizes;
Meus olhos cegos e surdos.
Nem sussurra, nem grita,
Ela apenas fala, e fala coisas de que não entendo.

O amor será que é isto?

A pouca razão de não poder ver, nem ouvir
Distancia as minhas mãos do toque
E elas sempre estão limpas,
As minhas mãos sempre macias,
As minhas mãos,
As minhas mãos limpas e macias.

E, à noite, parece que as coisas mudam,
Cada um em uma extremidade da cidade:
Dormindo? Talvez. Sonhando? Sabe-se lá.
Ardendo de amor? Muito provavelmente.

Porém, quando surge o som do telefone,
Uma ligação inesperada; olho ao visor,
E nele está o seu número, contudo não o quero atender,
Mas o atendo, consumindo minha carga de remorso:
Respondo com uma palavra, e tudo se acaba;
É a finalização espontânea de um dia qualquer.

Outro dia nos falaremos, noutro dia nos veremos
E, no abraço, conterá a paz celeste,
Trocaremos monossílabos, o pranto será inevitável,
Mas antes disso, quando entro no local marcado:
Não a posso ver, não a posso ouvir; porém
Eu posso sentir sua aura imaculada pela minha alma.

Minhas mãos limpas e macias predominam-se a todos os sentidos:
Meus olhos cegos que não a veem, ensurdecidos
Que não a veem dizer, mas minhas mãos limpas e macias
Tanto podem a sentir, como com elas
Escreverei meu último poema, e a história da vida,
(Exato, da vida), da vida que eu adoraria ter vivido, mas não pude.


(Santa Maria – 09/09/2015)