segunda-feira, 16 de maio de 2016

Esperança, talvez













Sobre tua enorme face
Bordada em meu espírito
Altura, eco, sopro e vento.

Nem mesmo quando se faz ócio agudo.

Por boa vontade amar a vida
Sofrer o amor, mas estar vivo
Quando a dor latente nos atinge
Ou o estar velho, quando não se tem mais a esperança.

Porém, ofício meu de poeta
Ouso silvar grandeza
Onde o eco é mais perceptível
Onde o sopro e o vento são meus irmãos.

E nada pode fazer de mim
Outro qualquer
Comida e vinho

A ser e a ter, o onde no quando.
Eu vou vivendo; não, só existindo
Curando a dor de desamor
Até não mais saber da vida
Nem o onde, para além do quando.


(15/05/2016 – Ijuí)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O amor é podre














O amor é podre, pois ele deturpa o homem.
O amor é podre
E do amar as gentes amigas,
Solidificar a relação de algas e fungos:
O ser mutualista.

Individual é o amor do homem
Que introduz na face do fosso
Uma sensação de liberdade quando enjaulados
Realmente estamos e sempre estaremos.

Sou vítima de mim,
Naufraguei a nau em meio ao oceano,
Perdi a luta,
Sangrei as finas veias, sofri por vida
O que se sofreria ao leito de morte.

O amor é podre, pois ele mente.
O amor é podre, pois ele agride.
O amor é podre e agora me causa repugnância.


(11/05/2016 – Ijuí)

terça-feira, 3 de maio de 2016

Ouvir estrelas












Será que finda ainda a ardência
que meu peito em brasa clama por socorro?
Ser obreiro do amor é o meu dano,
e no entremeio do soluço ouço,
balbucio nomes e nem tu, Julieta,
podes dizer de mim o que tanto necessito.

E será meu fim o Outro Lado,
iluminado a castiçais d’ouro,
marfim em teclas de piano
entoando minha marcha fúnebre:
os ciprestes, as figueiras, os plátanos.

Cadência lânguida de ouvir estrelas
e saber delas meu lar de maravilhas.
Incoerência de moradas celestes
quando me sei a mim de estar vivo.

E não me cabe saber a hora,
a data, os confins de minha paragem.
Olvidando o passado, o presente;
caminhante de vereda estreita:
cerradas as cercas, minhas cercanias.
O fado de morrer de amor, a sua nobreza,
fitando o firmamento, lembrando Julieta.
A ouvir estrelas, simplesmente a ouvir estrelas.


(03/05/2016 – Ijuí)