segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Amor encefálico


















A lembrança de um amor encefálico
Com o misto das bebidas alcoólicas
Faz-me andar por alamedas escuras
Em semelhança a um bêbado alucinado;
E mesmo que eu ande por ruelas estreitas
Hei de lembrar a face sonhada
Continuando a caminhada pela cidade escura
No sonho de um vagabundo solitário.

Estando então a memória já fatigada,
Suando tal êxtase de ser desejado
Mesmo que em lembranças falhas:
Um abraço despido, um beijo acalorado,
Serei completamente um pária ambulante
Cantando em meus versos orgias inexistentes
Sorvendo promessas já nauseabundas
Regurgitando ácido e amores delinquentes.

Porém, mesmo que na fadiga noturna
Serei um fóssil catedrático da poesia pútrida
Recitarei versos de álcool e tabaco e prostitutas
Sentado à beira da linha observando os carros
Passarem em minha frente quase colidindo,
E mesmo que eu passe pelo vale da morte
Sentirei novamente amor encefálico por ela
Pelo simples fato da lembrança falsa do que tive.

Mesmo estando bêbado e caído na sarjeta
Rolo sobre os dejetos do mundo moderno
Sem medo de contrair qualquer doença;
Nunca terei filhos, eu sei disso e aceito,
Pois de sofrer do amor sempre fui fraco
Perdendo o verdadeiro por debaixo dos olhos
Mas dane-se! Findo a noite e a vida assim:
Relembrando, saudoso, este amor encefálico.


(12/12/2015 – Ijuí)

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