Mamutes andróginos
e puritanos,
compadecidos
de tal dor humana e desgastante,
pude ver ao
meu par um ser mutante
que naufragou
na graça, eternamente.
Cadência de
cores, um prisma alucinado
caindo ao
chão. Pórtico da casa. Telhado.
E não era
mais meu este desejo vil
subindo ao
céu estrelado, azul, anil.
Cintilam as
estrelas, portas abertas
dando ao
vão da escada um tanto incerta,
mas meditando
vou ao teu encontro agudo
beijando as
mãos molhadas, um livro aberto.
Contigo: as
mãos molhadas, um livro aberto;
anunciando a
minha chegada, (eu descoberto),
vai gritando,
o porta-voz, mamute andrógino
compadecido
de tal dor humana, porém sereno.
Sabe-se lá
o que da vida posso ter contigo:
lar, morada
camarada, cães ladrando;
nas sextas-feiras:
sair e beber com os amigos,
nos sábados
e domingos: casa e filhos.
Porém,
amor, teremos casa? Amigos?
Filhos nós teríamos?
Depois, na noite,
beijarmo-nos
eternamente. Amor, indago:
se poderíamos
fazê-los até a meia-noite?
Mas na
casa, a cama é quente, seda viva
são os lençóis.
Caberá no quarto o meu roupeiro?
A sapateira?
Terá a casa um cômodo estreito
para meus
papéis avulsos e a escrivaninha?
Amor, a
vida passa. Cai a noite em meu mundinho.
Vai-se de
mim a brasa do dia; entra caladinho
o meu
desejo de te ver, além-vida, na labuta
de nunca te
deixar. Amar-te: aqui essa é a luta.
(22/08/2014
– Ijuí)
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