sexta-feira, 8 de agosto de 2014

REMANSO

Fazia-se algo intacto
o meu poema estagnado... (Duas palavras).

Se da alma brotasse a alva flor da paz,
e o meu cubículo se enchesse de luz serena

minha dádiva da vida seria apenas
a bela aurora, o clarear do dia.

Mas era meu aquele broto de viva flor
flutuando na imensidão retida de um poema bucólico?

Pude ver que não era mais meu,
e sim do Mundo,

com esta malfadada forma lírica de vida:
amanhecer e não reter a luz;

nadar às letras e nunca mais...
Faço desse poema o Nunca Mais

para decantar o outro lado
e descobrir, no vazio do entremeio,

a face incolor daquele Outro
que navega no líquido da aridez deste espaço sem matéria

em que meu corpo estará inerte,
sem fadiga alguma, perante o Rei dos poemas mortos.

Sobressaindo-me em duas palavras...

(04/08/2014 – Ijuí)

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