sábado, 15 de agosto de 2015

Num dia azul
















Um dia azul, mais um dia azul,
E mais um dia de minha boca sem a tua boca:
Esse dia azul, não menos melancólico que um dia cinza.

Dias cinza, de solidão penetrante
Que adentram tão profundamente
Dias em que chego a pensar em uma morte lenta e dolorosa.
Dias cinza, mas este azul?

Sei bem que, em um dia azul, tu poderias estar aqui comigo,
Mas não está, não mais.
Contentamento dissipou-se.
Satisfação, ah! nem sei mais o que é isso...

Nesse dia azul, bom para passeios à praia,
Mas não, tu não estás mais aqui comigo
E eu ainda sinto a textura de sua língua,
O doce afago de sua mão em minha nuca,
As borboletas no estômago, o frio na espinha,
O calmo som do mar ao redor.

Eu tinha sossego, escrevia muito,
Mas agora, não.
São raros poemas, pouca sorte e muita saudade.
São devaneios longínquos em minha mente doentia:
Uma taça de vinho, um jantar a luz de velas,
Um pacote de pipoca para uma sessão de cinema.

O que eu fiz à sorte? Ela só me traz solidão.
E o meu amor não era menor,
O meu amor era o meu amor
E tudo o que eu fiz foi por amor.
Deixei de amar, deixei de sentir;
Hoje apenas existo pelo tenro fio de raciocínios:
Não sou nada.

Quem dera o dia fosse cinza, frio, com muito vento:
Eu beberia vinho, acenderia velas para o jantar,
Depois assistiria a um filme preto-e-branco,
Pois hoje eu não te celebro,
Hoje eu não me recordo de nada.
Agora sou eu:
Eu, num dia azul, celebrando a mim mesmo.

(15/08/2015 – Ijuí)

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