é licito me
dizer que amor não há
e mesmo que
o passar dos dias,
o avançar
das horas, longas horas,
em
deferimento de minhas barbas longas
o inverno
há de passar e com ele as lembranças.
ser feito
fogo que se apaga,
o peito em
brasa que se esfria.
o inverno
há de passar e com ele a saudade.
o
esquecimento é bom proveito
ele lhe
tira aquilo que nunca lhe pertenceu.
é licito
dizer que a vida avança
e mesmo que
não se entre na dança
a música
não se repetirá,
e o refrão uníssono
ao espetáculo do auditório
mostrará
que o devaneio é um meio artístico;
proferir a
dança deduz-se um par,
mas eu não
danço, eu nunca dancei,
apenas tive
ensinamentos de violino e piano,
quando o
divertimento era o violão e a guitarra.
o inverno há
de passar e com ele a melancolia.
melancólico
é o pensamento quando lembra os lábios teus,
quando em
sonho se põe a tocar a tua tez,
quando
desperto tocaria teu peito com meu peito
e sentiria
o profano pulsar do coração medonho.
hoje posso
dizer que não vivi.
nunca vivi.
sou apenas o eco seco gritado
ao fundo de
uma caverna, um eco só,
fatigado e
rude que nada diz
apenas
sente a solidão úmida do esticado tempo.
o tempo que
traz de si o som do nosso fim.
— “temos
alguma reação a isso?... temos modo de reagir?”
já disse
Bandeira: — “não. a única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.
triste fim
para quem ama, bom começo para quem raciocina.
(24/08/2016
– Ijuí)
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