clepsidra,
aurora, finalmente
mas a morte
banalizou-se
conteúdo metafórico
e desmedido
o gado
acostumou-se a morrer
se dentro
da velocidade do tempo
pudéssemos
construir o presente
nada somos,
e também nunca seremos
morte abrupta
por um machado
ou um disparo,
ou a boiada
pisoteada por
seus amigos de grupo
o momento
de estar ali mesmo
fez do
tempo o que não se faz naturalmente
consumo de
energia, entrega, ócio, fadiga
o gado
acostumou-se a morrer
disseminando
o ódio e a agonia
morrendo de
fome, sem teto
mas em guia
dos seus superiores
mantidos em
rédeas curtas
fomos vendidos,
caluniados
e serviremos
de alimento aos que
alimentavam-se
ao nosso lado
mas que
teremos, nós, de fazer agora?
um levante,
uma revolta armada?
seremos mais
uma vez enganados
e sorveremos
o gosto amargo de sangue
mais do que
imaginávamos
mais do que
comportamos
e comeremos
um ao outro e a carne pútrida
sem receio,
pois é isso o que nos restou
somos agora
vermes decompositores
dormindo em
jazigos divinos
gado vestido
com o melhor linho
para ser
esquartejado no matadouro
clepsidra,
aurora, finalmente?
(24.II.2017
– Ijuí)
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