Novamente a
Vida se desfaz
Na louca
noite, na densa noite alcoólica, relembrando os russos.
Novamente
lamentei o fado (mesquinharia relapsa de analepses)
Fado
maldito, este que desfigurou minha vida toda.
Na última
lâmina de lábios vermelhos se completando, roubando-se em [beijos,
Comprando
brigas noturnas de neurônios saudosistas que ainda assim
Sonham com
a epiderme sedosa e de alvura espectral,
Porém de
calidez que remete a outra coisa e não ao espectro que me [persegue.
Sou formado
de vazios;
Balde que
transbordara e esvaziara-se completamente;
Sem nada...
Sem nada, mesmo, ando ao mundo sem rumo, ouço apenas o [meu fado
(Melodia
repulsiva, uma ária composta para desalentar o corpo de um
[amante,
Bela, mas
não ária apenas, mais para um réquiem, este composto de [toda
Naufragada partitura
em lágrimas sanguinolentas, da chaga do coração
Que se
insiste na dilaceração do músculo cardíaco vivendo a [majestosa vida de poeta
Não se
deixando por esquecer-se de tudo o que viveu).
Um viva à
poesia visceral!...
Por
sentar-se à cadeira de madeira ordinária, dentro do salão lotado [de fantasias
E luzes e
fumaças e ópios e outros tipos quaisquer de drogas [ilícitas que tanto a juventude
aprecia.
Mas não sou
eu o mestre do universo para julgar o corpo alheio,
Eu apenas
sou o menestrel deste reino, quem sabe o bobo da corte, [escravo eu mesmo
Do meu
próprio fado, que canta os aluares de
uma doença mental,
Mas que
canta o coração lacerado, realmente, que pinta de nódoas [escarlates o peito sem cor.
O que o
poeta canta, em vozes de outros eus, neste momento canta
Seu próprio
desalento em detrimento de magias e outras erupções [apaixonadas
De um corpo
que lembra.
E a
recordação desse corpo vai além de tudo o que se imagina,
Num
completo turbilhão zebrado, mas de olhos que não veem cores, têm [apenas a percepção do preto-e-branco.
Mas
retomando o fio-matriz deste poema, que apenas se inicia, dentro [de um salão
Onde
realmente deve se ter divertimento, eu paro e penso,
Rememoro
tempos que foram de divertimento, tempos felizes, (posso [dizer),
Mas que não
me cabem mais sua administração, pois outro ser [angelical o tomou posse
(Para mais
exatidão, a tomou posse)
Porém eu
creio, em meio a este mundo de descabimentos, este mundo [que eu desacredito
E nele me
ponho em tédio, eu, neste ponto, creio ser ela uma peça [incontrolável;
Indomável
corcel nativo que por ele mesmo não se deixa dominar:
A fibra é
mais densa.
Poderia ter
sido uma noite qualquer,
Pois a
vodca era uma vodca que poderia ter sido sorvida numa noite [qualquer,
Como o meu
de antes era um trabalho qualquer,
Mas após
esta noite, (após um quarto de hora exatamente), este [trabalho não é um qualquer:
Ele pede
por verdades e justiça, e que esta justiça seja feita antes [que tarde
E não se
tenha mais curtos segundos de vida para se gozar de um [verdadeiro amor.
Não sou aluado por razão de ser maluco, apenas
por vocação de o ser.
Aluando nesta hora de escritura, em versos
vertiginosos que a poucos [remeterão
Quaisquer sensações.
Mas eu acredito no que canto, por isso aluo
meu [ser,
Mergulho na
pura sensação de loucura, pois dela nunca terei um [último beijo:
Nem em
vida, muito menos em morte,
(Mesmo que
a morte não se aproxime, a não ser que eu a tente [aproximar,
Mais por
querer tocar estes lábios, ao menos mais uma vez, finado em [um esquife).
Será que
serei enterrado em minha terra natal?
Será que
muitos virão ao meu velório?
Será?...
Será?...
São dúvidas
cravejadas de reticências, por serem estas perguntas um [mesmo véu de incertezas
Que
encobrem meus olhos de puro amor.
(Como disse
noutro, Árula é um anagrama, como Aluar o também é:
Medito
nesta árula para mais tarde, ainda mais, aluar-me na vida, ou [na morte,
Sempre
amando inexplicável e inacreditavelmente).
Amor para
todo o sempre!...
(01/05/2015
– Ijuí)
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