quinta-feira, 22 de maio de 2014

FLAUTA TRANSVERSAL

Não deixo meu fogo morrer,
pois dessa vida muito já se apaga:
são, por trás do mato, as pegadas;
são, durante as noites, as vigílias.

Tudo cai ao esquecimento.

Não deixo minha vida findar.
Caibo dentro do som, o cantar:
canto da vida o som secular
dos meus poros, às últimas moléculas.

Não é de o sopro o raiar.

Minha rústica serenata de amor
não cabe dentro dos ramos de flor.
Minha seresta vertiginosa numa flauta
sibilando, os versos sonoros, o coro ao redor.

Minha vida é o eterno passar, mas
o que fica é o perpétuo anseio de existir.

E, por cá, chamo teu nome
(denúncia do chamamento de outrora)
quando o corpo sonha com o que nunca teve.
Nem mesmo o tem no tempo de agora.

Mas há de se saber tudo, em breve.
O alento da alma, uma poção lunar,
em que o corpo se entrega à moléstia
de dormir, depois da vida, ao raiar:

e de cada verso meu, fazendo o ciciar
do que não coube ao tempo provar
as notas da flauta que o sopro da noite

nunca soube tocar.

(22/05/2014 – Ijuí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário