domingo, 31 de março de 2013

construir um poema-presente


construo um poema
belo de sua forma
nadando nos pensamentos
nos meus anseios
e a tua volta

construo um poema-presente
um poema-amante
um poema diferente
pra te ver assim feliz
sem mais nem menos
por eu ter escrito algo
tão pequeno
com um sentimento tão grande

estou feliz
assim estando
descomplicado distraído
apaixonado
a vida assim quis
eu sou assim
sempre fui

construo um poema
de presente
pra você
assim e só
com todo o sentimento
que levo comigo
no coração
e por ti derramo
o meu contentamento
no mundo
estou feliz
por te ver
aqui

(30/03/2013 – Ijuí)

sexta-feira, 29 de março de 2013

relevância


o chão com pó de giz
assim se diz
não quero ficar

minhas mãos não são macias
sua face apenas espia
suplicando pra eu voltar

(29/03/2013 – Ijuí)

CONFUSÃO DA IDADE


A
Voz
Do                  vo                   (vô)
Cha
ma
n
do
A
(V)                  ovó
Por
C
au
sa
Da
– água –
No
F
o
go

(29/03/2013 – Ijuí)

quinta-feira, 28 de março de 2013

envergadura


o mundo se tinha
por debaixo de minhas pálpebras
fatigadas e sonolentas
o mundo se tinha
em tudo
em tudo o que eu via
o mundo era meu
assim como é nosso a cada dia

o mundo se tinha
por debaixo de minhas pálpebras
fatigadas e sonolentas
o mundo é tudo o que eu tenho
e era tudo o que meus antepassados tinham

o mundo é uma coisa
o mundo não cabe na envergadura dos meus braços
o mundo é tão grande
mas não mudou a forma geométrica que tinha
o mundo – sei lá – é uma coisa
que eu tenho dentro do peito
assim como os meus amigos
que o nutrem e o cultivam

o mundo se tinha
por debaixo das minhas pálpebras
fatigadas e sonolentas
acabei por descobrir
que o mundo era
simplesmente aquilo tudo que eu fazia

(28/03/2013 – Ijuí)

profissão


eu amanheço nessas páginas
construo a imagem de um poeta
que soube ser um pouco tudo
anoitecendo nas páginas rasgadas

eu fujo e volto para o dia
eu solto pipas como uma criança
como as frutas do pomar da minha vizinha
e continuo nessa mesma andança

não quero pedir pra ir embora
eu gosto de ficar aqui pertinho
como o tatu faz seu buraco
eu quero ter o meu cantinho

gosto mesmo é de escrever
meus sonhos mais impróprios
sou um oleiro das palavras
é isso mesmo, e assim vai ser

(27/03/2013 – Ijuí)

quarta-feira, 27 de março de 2013

refrão


a pressa do mundo
tirada ao fundo
do meu coração
não é mais apressada
que o som da plateia
cantando o refrão

se a minha vida fosse
um pouco parada
anestesiada pra dor
pense meu caro
a vida que passa
com toda a pressa
necessita de um tom
para que na junção
da grande plateia
se cante o refrão

(27/03/2013 – Ijuí)

terça-feira, 26 de março de 2013

rodoviária


um turno
uma turma
uma viagem esperada

um sonho
um conto
quero ver minha namorada

dentro de cada carro
dentro de cada vagão
perdido, ando solto dentro da canção

uma vida
uma vida
uma paisagem perdida

uma voz
um trinado
conta mais, ficando enamorado

um freio
uma cela
pediu-me para a chamar Cinderela

um conto
um canto
um ônibus perdido

dentro da longa estrada
perto do fim
chamo-me Serafim

(25/03/2013 - Porto Alegre)

sábado, 23 de março de 2013

plateia


eu não me curvo
enquanto o corvo
continua gritando
coisas sem sentido
gritando coisas
ao meu ouvido

eu não me curvo
enquanto o tiro
não for dado
e enquanto
não tirarem
o meu gato
do telhado

(23/03/2013 – Porto Alegre)

domingo, 17 de março de 2013

AMANHÃ, AMANHÃ


Uma sombra
Perseguia-me por todo o caminho que eu trilhava.
Era enorme e fria
Do pouco que eu sabia.

Uma sombra
Que aos poucos tomava meu caminho.
Tirava-me dos trilhos.
Descompunha-me a face.
Desorientava-me todo.
Era como um pulso frio (morto?) puxando-me
E jogando-me ao solo úmido.

Será?
Será, meu Deus, que eu estou morto?
Que essa sombra é, em partes, a minha cúmplice de um crime?
Será que essa sombra é a Morte que me acompanha?

Ai! se sombra cúmplice, que se vá.
Deixe que eu tome mais um café
Depois acerto as contas com os fatos.
Amanhã eu vejo e analiso
Se eu vou pra cadeia ou pro cemitério.
Enfim
Amanhã, amanhã!

(17/03/2013 – Ijuí)

quinta-feira, 14 de março de 2013

O JARDIM NA AURORA


Cultivei o meu jardim de amores
Já que a vida se faz com cores.
Cultivei o meu jardim de sonhos
Já que neles pude encontrar afagos.

Caminhei pela rua, noite alta
Não vi fumaça nas chaminés.
Corri para os bares sem chances
De uma embriagues quase instantânea.
Não fui aos consultórios psiquiátricos
Em busca de um alivio.

Cultivei o meu jardim de amores
Já que a vida se faz com cores.
Cultivei o meu jardim de sonhos
Já que neles pude encontrar afagos.

Joguei fora tudo aquilo que não me servia.
Joguei ao lixo meus desenhos, rascunhos incompreendidos.
(Nunca fui um bom desenhista).
Descobri-me, então, algo que é de um dom artístico –
Encilhei as minhas palavras e galopei
Galopei o mundo da linguagem –
Senti-me gente, um artesão na chuva
E no escuro. Creio que nunca lerão
Isso o que escrevo. Ou se forem ler
Não darão importância.
Nunca fui ligado a um formato
Nem a uma cortina que exprime delicadeza.

Cultivei o meu jardim de amores
Já que a vida se faz com cores.
Cultivei o meu jardim de sonhos
Já que neles pude encontrar afagos.

Cultivei o meu jardim de coisas
Já que o instante o quer assim.
Cultivei o meu jardim nas brisas
Já que há tempos era muito mais que um jardim.

(14/03/2013 – Ijuí)

POETA


Ao mundo entrego as minhas ideias e ideais.
Sano minhas dúvidas.
Cativo o ser. Construo pontes.
Manuseio a palavra.
Reconstruo a linguagem.
Dou luz às trevas
E à loucura, sanidade.
Sou mesmo um artesão do tempo
Sou mesmo um lutador incansável da liberdade.
Enfim
Sou poeta
Não desmereço os trabalhos manuais, apenas os acrescento
Vida, onde só se tinha suor e pedras.

(14/03/2013 – Ijuí)

terça-feira, 12 de março de 2013

AO TEMPO


Quanto tempo faz
que nos falamos pela última vez e que comentamos o céu, o orvalho, o mundo em si, quando foi?
Quanto tempo faz
que o dia não se mostra mais como era, e, mesmo assim, não sabemos o que mudou: se fomos nós ou se foram os outros. Lutamos o dia todo e não perguntamos, quando foi que nos falamos?
Quanto tempo faz
que a imagem que tínhamos um do outro era delicada e simples, sem excessos, mas com precisão?
Quanto tempo faz
que eu contava os dias para poder chegar perto de ti e, sem medo, dizer tudo o que deveria: que o amor não é pequeno e que a paixão pode ser passageira onde, cada um sinta a necessidade do outro, estando perto ou não?
O tempo já se fez
com certeza ele se fez muito bem. Fez-se como deveria de ser. Juntando os opostos, num desenho sem fim, acreditando mais na poesia, colorindo mais a ilustração, criando situações. Então, chega de lenga lenga, vamos, novamente, direto ao beijo para terminar com toda essa tortura.

(12/03/2013 – Ijuí)

domingo, 10 de março de 2013

ESSA VOZ DOCE


Essa voz doce, que me embriaga a vida
De perfumes caros, com teus lábios raros
Há de me beijar a boca e me entregar à loucura.

Essa voz doce, que me deixa doido
Há de me fazer mais feliz
Do que as nuvens e o vento, trazendo-me o frescor.

Essa voz doce, que me deixa são
Há de me refazer na vida
Com a luz rutila do sol, dando-me abrigo.

(10/03/2013 – Ijuí)

sexta-feira, 8 de março de 2013

SOPROS

Salve, salve...
Para as vozes do mundo inspirado no subterrâneo cérebro de poesia.
Salve, salve...
Para as agruras vividas pelos poetas mortos, que sonharam um dia com a viscosidade do amor.
Salve, salve...
Para todas as formas vivas de se dizer amigo, enterrado dentro da própria sala.
Salve, Salve...
Para todos aqueles que pediram perdão, mas que mesmo assim nunca foram perdoados, pois a vida é dura, e a labuta diurna e noturna nunca foram o suficiente para se viver confortavelmente.
Salve, salve...
Para os dons, os sons, e tudo aquilo que não faz mais diferença, mas que um dia fizeram a vida ficar mais doce e que agora não fazem mais diferença.
Salve, salve...
Para as dores do mundo contemporâneo, perdido na fumaça das fábricas, envolvido no lixo, mundo moribundo esse que vivemos.
Salve, salve...
Para a sanidade que muito precisamos, mas que no momento não possuímos.

(08/03/2013 – Ijuí)

quinta-feira, 7 de março de 2013

A VOZ DA VIDA


A faca me disse
O que há muito tempo precisava ouvir
Que a voz do lobo se faz voz de cordeiro
Enquanto a vida não cessa, e ainda está por vir.

Eu sou o silêncio, planejo alturas.
Silencio o desejo, de que há muito apreciava
A música tardia, de uma vida pequena.

Fomos os mais belos e simples de todos
Onde a aurora já não se faz
É só noite, noite, noite
Dentro do meu coração que já não chora mais.

(07/03/2013 – Ijuí)

quarta-feira, 6 de março de 2013

INFÂNCIA


Você conta, eu conto.
E assim vamos indo
Outra hora nós voltamos.
Você conta, eu conto.
Vemos uma peça
Atiramos uma pedra no lago
Atormentamos os peixes
Construímos um forte
Nadamos no mar
Naufragamos, pescamos
Crescemos e paramos de brincar.
Essa vida é muito chata
Não tem nenhuma aventura.

(06/03/2013 – Ijuí)

segunda-feira, 4 de março de 2013

CONSPIRAÇÕES


que esse amor
não aperte nem solte
nem suma
a vida é muito pouca
a angústia tanta
que deixa a cabeça maluca.

(04/03/2013 – Ijuí)