quinta-feira, 14 de novembro de 2013

SURTO PSICÓTICO

Calculando a falta que me faz de sanidade
A falta que mais faz de lucidez; caleidoscópios

Agudos; eletroencefalogramas; fios; campos do cérebro:
E o meu cérebro em lentidão desatenta.

Faz-se martírio o pensamento. Faz-se podridão o lamento.
E de nada nos serve os cálculos matemáticos

Para serem lidos, conferidos, apenas compilados
Em notas suaves de uma leve partitura de violino.

Mas o feto natimorto de meus neurônios tão discretos
Está submerso num líquido sujo de sangue e terra úmida.

Se minha mente prejudicada, acostumada às fantasias
Comovida com os pares de vozes que me destroem

O sono, as tardes, o dia todo; que cavam minha sepultura
Aquática, nesse rio corrente ao lado de minha cabaninha

Faço-me, agora, um desprovido de cabeça-que-pensa
E adentro meu lar eterno, o entremeio desse longo rio

Nu, em meio ao turbilhão de sentimentos avulsos
E desconexos. Farei de meu corpo alimento e lar para os peixes.

Que nesse meio de rio, entre suas margens, se faça a morada
De meu futuro tão lapidado de soluços, construções

Indistintas. (Levantarei a minha arte a arte. Deixarei
Meus quadros, esculturas e, também, minha densa poesia.)

Pois que de eterno se têm os homens que lapidam
E verificam seus dias mornos e sem sal

Para serem livres de amarras, grilhões de metal
Naufragando no rio laborioso do eterno.

Fechado para o pensamento desconexo e dificultoso
Far-me-ei de gás, líquido... Deixo de mim, o corpo sólido

Para ulular alturas, sulcar pedras do inconsciente
Nadar o rio e suas plantas submersas e verdes.

Que de mente despudorada e doentia
Tenho eu, oleiro das palavras belas, para cantar:

O sangue podre de um feto natimorto e deformado
Comendo a carne de meu próprio corpo e regurgitar

Os favos de mel que cultivarei até o tempo de se fazer recuperado.

(14/11/2013 – Ijuí)

Um comentário:

  1. Poeta!
    Todos nós passamos por momentos de conflitos e confusão, de encontros e desencontros, de nos sentirmos perdidos e de sermos encontrados por alguém ou de nos encontrarmos em nós mesmos....
    Palavras que e trazem lembranças da construção do que superei e do que hoje sou.
    Senti cada verso escrito .
    Parabéns!
    Admirador

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