terça-feira, 5 de novembro de 2013

OPACIDADE REFLETIDA

Se me cabe ao léu gritar alturas, infrutíferas árvores de amargor
E a chama que outrora ardia em meu peito aberto, fumegava
As gotículas de saliva derramadas pela boca suculenta hoje, agora
São marcas do vapor dos mares, que vêm e vão, sem direção exata.

Ouvi a voz dos sons cantando a longínqua abertura de um coração
Sem dó nem piedade eu fui cavando para achar lá dentro uma lacuna
Que poderá ser preenchida por minha agudeza e meu engenho
E se de nada basta para ti, ó vil desejo, de me fazer extremo e corrosivo:
Hei de morrer nas trevas do temor vivente, para ser usufruído
Sem o mínimo desejo. Pois na morte certa de um rútilo no entremeio
E as trevas piores das mais pútridas avenidas, hei de sofrer os piores castigos.

Que do amor real não tenho conhecimento. Sei mesmo é de um momento — Momento de fagulha em meio às chamas, brilho intenso em meio às trevas
Claridades ofuscadas, opacas facas afiadas, luminárias com lâmpadas queimadas.
Em que o céu é só de nuvens cinza, chuva sem cor, e o cão ladrando para o nada
Sem ter, na noite, a luz da lua, e nem sequer um osso para ser roído e devorado.

Era, o pássaro, a minha experiência: ser trinado livre, sem pudor, gorjeio meu
Espantando todo o risco, para ser ouvido ao fim da tarde ou ao fim do mundo.


(05/11/2013 – Santa Maria)

Um comentário:

  1. Poeta!
    Música, riso, encantamento, dor, temor e demais situações são reveladas nas mais diferntes fases de nossas existência.
    Lindo ver de forma poética....trabalhada com equilíbrio, ou busca do equilíbrio que enaltece a vida , o sonho e o amor!
    Parabéns!
    Admirador

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