quinta-feira, 4 de junho de 2015

Lamentos melancólicos da possibilidade (2)














II
Se porta aberta é o que tu tinhas, Ruana
O que eu tenho agora, se não desfalecimentos?
Cantei realmente o que perdurava — enganei-me —
Hoje o que tenho é solidão e desalento.

A queda aproximava-se, Ruana, e fora vigorosa
Mas o que fizemos? Recusamos amor e permanência.
Contudo amávamo-nos de forma tão genuína
Que hoje, agora, as flores descolorem-se, murcham
Realmente, por não terem mais a seiva-mãe
Que tanto, no amor carnal, exalávamos satisfeitos.

Passo a ser escravo do tempo — que sina —
Sequestrara-me de minha casa-guardiã
E pusera-me em cativeiro inóspito, meu tormento.

Agora poetizar é a minha grande fuga
Porém a canoa naufraga na travessia do rio.
Assim escrevia, trabalhando aos séculos forjando lâminas
E a fonte esgotara-se lentamente —
Desmotivos de um amor que houvera sido.

O ribeiro, por detrás de minha cela, torna-se rubro.

Vês, Ruana, na mais recôndita reentrância
O coração verte sangue ainda, e tu deves crer
Que o emanar amor-sangue ainda é nossa vitalidade
Por isso me aceites, eu, Jano, com todos defeitos
O maior de todos é o amar. Não sejas leviana
Que o amor ainda flama com a cantiga do desejo
Com a cantiga que nos levará a usufruir do gozoso êxtase.


(04/06/2015 – Ijuí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário