segunda-feira, 28 de outubro de 2013

AVES NOSSAS

Pássaros cansados, sobre o fio de eletricidade
Movidos pelo combustível do ar, mantidos
Pela pureza aguda, esgarçando suas penas
Maquinando a maquilagem rubro-amarelada
Do por do sol. Os pássaros que voaram nas nuvens
Sobrevoaram as cidades e o litoral; nadaram
A ebriedade líquida das estrelas; comeram
Os grãos da tolerância e viveram o néctar das folhas:

Com esses pássaros voei. Sorvi da vida aérea
As vilezas, e de minhas fezes líquidas degradei-as
Todas em pura felicidade humana: salpicando
Estatuas, bustos, bancos e calçadas dessa leve cagada
Monumental. Dizendo-me de andorinha a pardal
De humano constipado a essa esbranquiçada diarreia

Para ser uma pena plainando o vento — saindo do pombal.


(28/10/2013 — Ijuí)

Um comentário:

  1. Poeta!
    O que mais desafiou o homem é o ato de voar. Impõe o desejo de liberdade e sem limites.
    Nas linhas que hoje aprecio e que você descreve o anseio da humanidade presa em conceitos e preconceitos culturais e que a sociedade praticamente impõe.
    Misto de mistério e sonho me fez...VOAR!
    Parabéns

    ResponderExcluir