quarta-feira, 23 de outubro de 2013

FAGOCITOSE

Vem! Que é minha a tristeza aguda, profana ferida
A dor de estar incompleto, angustiado, sem vida
Em que a loucura reclama sua parte do corpo
E toma, para sempre, a parte importante, um cérebro morto.

Vem! Que é minha a tristeza aguda, os sons inexatos
O nó da garganta, os raros batimentos cardíacos
A vontade de surpreender o seu próprio instinto
Comendo os miolos e os resíduos corpóreos de um rato.

Não venha! Pois que é minha essa estação.
Pois que é sua a condição de silêncio.
Pois que é nossa a vasta sala de um velório
Não bastando apenas o corpo: ossos em precisão.

Não venha! Pois que é minha a fissura do crânio.
Pois que é sua a armadura de metal duro.
Pois que é nossa a ventania do final da tarde
Trazendo-nos os últimos vícios da vida e os uivos dos mortos.

(Estêvão DeLarge & Érico Zardin)

Um comentário:

  1. Poeta!
    Agora em parceria.... uma bela surpresa!
    Gostei!
    Tem uma forma muito tua nas expressões que usas em seus poemas.
    Esta para mim foi marcante:
    "em! Que é minha a tristeza aguda, profana ferida
    A dor de estar incompleto, angustiado, sem vida
    Em que a loucura reclama sua parte do corpo
    E toma, para sempre, a parte importante, um cérebro morto...."

    Forte e enigmático
    Parabéns!
    Admirador

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