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Banda de Jazz - Mervin Jules |
não temo as
rosas
com seu
meticuloso perfume
doce.
minhas
visões nefastas,
agredidas
pelo olfato
e pela
inaptidão visual,
não são
mais
tão
presentes e
nunca mais
as percebi.
como pude
deixar
envolver-me
com estas cadelas,
mas as amo,
essas cadelas.
meu
metabolismo
rudimentar,
empalidecido
pelo pássaro do teu
sexo,
medindo a
conformidade e
pedindo por
mais uma vez
poder tocar,
com minhas mãos, teus seios
e neles
derramar minha seiva.
nunca mais
ao romantismo.
não almejo
mais as rosas nem seus perfumes.
nunca mais
palavras acalorados e prazenteiras:
eu quero o
choro, o urro alto de dor e lascívia,
quero mesmo
é sentir o sabor podre das ruas escuras e dos
burburinhos
noturnos de um bar barato.
eu preciso
da vida subterrânea, da marginalidade, da cor escura de uma
noite sem
sentido.
quem dera
eu poder correr de carro noite adentro
e usufruir
do néctar alcoólico contido numa garrafa de vinho e uísque.
caralho,
como a noite é curta para um pseudo-escritor como eu,
mas agora o
meu mundo é aquilo que eu escrevo nos livros.
depois
desse devaneio
em meio
a
enxurrada
do chuveiro:
fechei o
registro,
sequei
partes do corpo e
comecei a
vestir-me:
uma calça
jeans, uma camisa amassada
e os velhos
sapatos pretos
(meus companheiros
de muitas jornadas).
não
borrifei gotículas de perfume,
passei a
mão nos cabelos úmidos
e fui.
fui ao bar,
que ficava a duas quadras do meu apartamento,
fumando um
cigarro barato
sem pensar
no trabalho e na poesia.
tomei um
porre daqueles
e no meio
da profusão de goles, tragadas e baforadas
chega a mim
uma mulher:
“o que
temos pra hoje, garotão?”, ela me pergunta.
“pra você
serve esse cara aqui?”, respondo-lhe com outra
pergunta.
“claro, amor. vamos lá?”, ela diz. e eu respondo:
“só se for
agora”. paguei a conta, já de costas agradeci com um aceno.
fomos em
direção a um motel barato...
... com
vontade de trepar no restante dessa noite.
(12/01/2015
– Ijuí)