terça-feira, 13 de janeiro de 2015

revolução noturna de uma vida sem sentido

Banda de Jazz - Mervin Jules
















não temo as rosas
com seu
meticuloso perfume doce.

minhas visões nefastas,
agredidas pelo olfato
e pela inaptidão visual,
não são
mais
tão presentes e
nunca mais as percebi.

como pude deixar
envolver-me com estas cadelas,
mas as amo,
essas cadelas.

meu metabolismo
rudimentar,
empalidecido pelo pássaro do teu
sexo,
medindo a conformidade e
pedindo por mais uma vez
poder tocar, com minhas mãos, teus seios
e neles derramar minha seiva.

nunca mais ao romantismo.
não almejo mais as rosas nem seus perfumes.
nunca mais palavras acalorados e prazenteiras:
eu quero o choro, o urro alto de dor e lascívia,
quero mesmo é sentir o sabor podre das ruas escuras e dos
burburinhos noturnos de um bar barato.
eu preciso da vida subterrânea, da marginalidade, da cor escura de uma
noite sem sentido.

quem dera eu poder correr de carro noite adentro
e usufruir do néctar alcoólico contido numa garrafa de vinho e uísque.
caralho, como a noite é curta para um pseudo-escritor como eu,
mas agora o meu mundo é aquilo que eu escrevo nos livros.

depois desse devaneio
em meio
a
enxurrada do chuveiro:
fechei o registro,
sequei partes do corpo e
comecei a vestir-me:
uma calça jeans, uma camisa amassada
e os velhos sapatos pretos
(meus companheiros de muitas jornadas).

não borrifei gotículas de perfume,
passei a mão nos cabelos úmidos
e fui.
fui ao bar, que ficava a duas quadras do meu apartamento,
fumando um cigarro barato
sem pensar no trabalho e na poesia.

tomei um porre daqueles
e no meio da profusão de goles, tragadas e baforadas
chega a mim uma mulher:
“o que temos pra hoje, garotão?”, ela me pergunta.
“pra você serve esse cara aqui?”, respondo-lhe com outra
pergunta. “claro, amor. vamos lá?”, ela diz. e eu respondo:
“só se for agora”. paguei a conta, já de costas agradeci com um aceno.
fomos em direção a um motel barato...

... com vontade de trepar no restante dessa noite.


(12/01/2015 – Ijuí)

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