segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cemitério do pampa

O Cemitério Judaico - Jacob Isaakszoon van Ruisdael


















No pequeno fio vivo
de um átimo de segundo
vi nascer ali somente
já, um poema moribundo.

Assim como uma casa
é construído em partes.
Com as letras do alfabeto
vai se montando as palavras,

mas e o poema maior
já findo, é vigoroso.
Tenho medo destes, mesmo
que já vêm emaranhados

na navalha que, afiada,
passa a lâmina na chaira
para assim mais afiá-la
e ao verbo, dissociá-lo.

No fio fino, na lâmina:
este mestre da palavra,
de sinas, manias mais,
corta a parte importante

fingindo ser dor, aquela
que, na vida, namorou,
mas do poema a cortara
por não ter a incumbência

de matar a dor aguda,
nem fazê-la uma doença.
A vida deste poeta
é mesmo um poema morto.


(18/01/2015 – Ijuí)

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