sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

sentido putrefato

A Ronda dos Presos - Vincent van Gogh



















não amo.
apenas sinto muitos pesares,
mas
do amor, esta dor maior,
não sinto nada.

nem sinto compaixão da arte de amar:
que não é
arte,
é desespero,
é uma agrura desmedida
que desta o nó
dos
putrefatos desejos
da libido, este amor de
carne.

não sinto amor,
nem sou amado e
nunca serei amado.
não sinto nada disso,
nem falta eu sinto, pois
nunca tive.

sou seco. e penso:
quão repulsivo é o amor.

não amo.
apenas sinto muitos pesares,
mas
do amor, esta dor maior,
não sinto nada.

não amo,
nem mais pesares eu sinto:
apenas pena

por tão boas almas
perderem-se no desvão de uma cadeia
que além de prender,
tortura e

esquarteja.

fui treinado para a crise,
adaptado para a estiagem do organismo.
nada faria sentido
se o sentido não tivesse
sido
deturpado.

sou soldado.

e o abutre sanguinário
de nome
amor
está foragido.

nunca tive tempo para
conversinhas.

cadáveres humanos,
entregues ao sofrer maior (o amor),
expelindo o odor
do
sentido putrefato
na maior
orgia
dos sentimentos cáusticos:

abaixo ao amor.


(01/01/2015 – Ijuí)

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