quinta-feira, 4 de julho de 2013

AO POETA MORTO

Se dizer, fosse preciso, ao poeta morto
As palavras salobras de lágrimas derramadas
Mares negros, assim como reflexo de temporais.
Se dizer, fosse preciso, ao poeta morto
Redizer, ramificar o verbo, flexões abdominais
Lacunas do dorso, nós nas vértebras rompidas
Uma vida, dita assim, pútrida, que não poderia ser
Mas que na sina, os monstros ébrios do limbo
Obrigam à força sobre-humana mesquinhamente de ser.

E se o canto do poeta morto maldizer o estudo
E o colosso chamado Tempo – amigo íntimo da Morte –
Que por movimentos rotatórios, um pêndulo de relógio
Desmitifica uma imagem de metal precioso.
Desconheço as formas brutas de se dizer Amigo
Pois do bálsamo negro, com odor de sangue podre, coagulado
Jogarás por sobre as cristas das ondas da poesia.
Não se desgoste da vida, tu mesmo, que amanhã
Ao fim da tarde o punhal estreito, fincado em ardências
Na minha carne, lamentará a morte do poeta.
Pude ver, então, o quão dissimulada é a vida

Se de aparências e maquiagem mórbida o poeta se fez morto.

(04/07/2013 – Ijuí)

Um comentário:

  1. Poeta!
    Que lindo perceber que a cada produção você tem tido, cada vez mais, intimidade com as palavras .
    Acredito que a cada poema, verso ou estrofe o poeta morre para renascer em algo novo.
    Parabéns!
    Admirador

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