terça-feira, 10 de setembro de 2013

“BIOLOGISMOS”

1.
Gorjeio feito um pássaro pousado no galho da literatura.
Manifesto meu anseio pelas belas artes.
Canto o meu trinado do acasalamento, deitado por meio de letras
Pontos e vírgulas.

Uivo feito louco, nu em meio à avenida
Nas manifestações alucinatórias de meus neurônios sedentários.

Faço-me árvore, ao invés de ser chão. Pedra eu fui.
Sangrei, em meus sulcos, o magma da rocha.
Fui mudo, cartilha surda, lecionei o canto rouco
Para uma banda de ninguém.

Fiz-me parte desta natureza imensa.
Fui um grão de areia inflamado numa ostra, pérola.
Já fui metal precioso carregado por bandidos maníacos.

Hoje
Sou um cantor de ilusões, histérico.
E quem não ficaria assim, sendo muitas coisas contraditórias num mundo comum?
Terminarei na vala, na lama
Como um bom molusco verde e gosmento num labirinto de sal sem saída.

2.
O canto perdura
Afunda o sulco, encrava a rocha
Dilacera
Mamutes transeuntes em meus miolos, cachos de cabelo, viços da relva.

E se eu disser “Tudo bem”? Nada voltará a ser um canarinho
E o peixe pulará fora do aquário.
Nadarei na correnteza desse vento encanado no meu corredor.

O ofuscante brilho de meu sistema cardiovascular num exame de imagem
Em alta resolução.

Mas o canto perdura. É o cardeal com sua cabeça vermelha que floreia
Um trinado. O gorjeio sentimental de um ser preso numa gaiola.

3.
Semeio as letras no papel, como a gralha e suas sementes.
Deixo-as brotarem, e, quando bem formadas, colho-as.
Não como as pinhas da araucária, que caem.

Construo minha fortaleza de capim, chão batido, paredes de pedra...
Sou feito um pássaro livre, voando no céu límpido, tênue sensação de liberdade.

Incontido o meu grito de alforria. Gaiolas
Aquários, coleiras e correntes: NUNCA MAIS.

Manifesto minha alegria de anistia dos favores.
Exilei-me e trilhei o caminho percorrido pelas lesmas.
Agudas sílabas poéticas de meus pensamentos insólitos.

A biodiversidade.

A natureza faz parte de mim e de minha poesia.
Sou feito hortelã, anis, erva cidreira
Para ser bebido quente no chá da tarde.


(09/09/2013 – Santa Maria)

Um comentário:

  1. Poeta!
    Perfeito!
    Composição em partes num crescente.
    Mostra interlocução da vida, da natureza e do poema.
    Representa a interação homem e a natureza no desfio de conviver em sintonia.
    Nosso eu interior com nosso eu que expomos.
    P E R F E I T O !
    Parabéns!
    Admirador

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