Passa
A lâmina.
Passa.
Passa a lâmina.
Afia.
Corta.
Testa.
Verifica.
Sabe-se
O que?
Vai
Passa a lâmina no esmeril
Fagulhas cintilantes caindo,
voando da roda, a madeira
A madeira da mesa.
Testo a faca
Na madeira.
A mesa.
Tudo pronto
Em seu devido
Lugar.
A pele presta
Para tanta afiação.
O silêncio afinado da
oficina muda
Claustrofóbica sensação de
perder o controle.
Fito a janela
E lá de fora a árvore me
fita
Vejamos: assim nos vemos de
relance.
A seiva da árvore, subindo
ao tronco, descendo ao solo
Assim como minha seiva a ser
derramada
Colorida, rubra
O som das cores
Deformadas.
Desligo o motor do esmeril
Passo o fio da faca num fio
de cabelo
Meu próprio cabelo para o
teste.
Testo.
Ela corta
Afiada faca
Longa e firme.
Determinação.
Corpo em controle. Mente
forte. Exatidão.
Tranco a porta
Saio ao pátio
Entro em casa
Vou ao banheiro
Tranco a porta
(Som nefasto da chave se
passando).
Banheira
Cheia d’água
Corto os pulsos
Deito n’água
E vou morrendo lentamente
Vazando. Tingindo a água de
vermelho
Sem saber o gosto da lâmina
em meus pulsos.
Cortes fundos, nem percebi a
dor.
Na liberdade
Lambo uma gota
De sangue e seu sabor
Como se bebesse vinho.
(08/09/2013 – Ijuí)
Poeta!
ResponderExcluirPercebo que nestas últimas produções um lado tétrico e sombrio do teu lirismo.
Ao meu ver algo que mexe com muito mitos e muito com nossa luta de sobrevivência.
Desatino ou não.
Inspiração ou não.
Lutar contra o mal que as vezes está dentro de nós é que nos fazem VENCEDORES não entregues ao destino ao léu.
Minha interpretação das últimas produções.
Abraços
Admirador