Percebi
meus anseios, sem nem ao menos ver pela janela
A
paisagem fria, congelada, mas notava o movimento de rotação da Terra.
Percebi
as folhas que caiam das árvores, e a loucura geral instalada
Em
meu cérebro de poeta, sem nem ao menos ter vivido mais de vinte anos.
A
claustrofobia emanada pelos poros e sulcos das rochas que me constituem
Eu
não via mais a maquinação de estrelas no céu, notava-se que iria chover
Mas
a labuta continua (dia e noite, noite e dia) dentro de meu cérebro
(Outrora
era mais rápido, a máquina perfeita, não havia falhas)
Intensa
era a poesia, ela vivia em mim, por meio das células e do plasma.
E
todo o fluido viscoso e pegajoso que escorria no canto de minha boca
Era
o sumo mais adocicado, o néctar supremo para a noite que se avizinhava.
Não
sabem o quão duro que é viver assim, desorientado, histérico
Saindo
às ruas nu, uivando, vomitando, numa alucinação contemporânea.
A
recuperação, assim, para um doente mental, de alto risco e gravidade
É um
processo lento, mas eficaz. E embora seja a minha vida uma paranoia
Com minha
literatura. Eu vivo simplesmente para isso, e a isso vou viver
Cada
momento, com gratificação de meus amigos mais próximos
E as
duplas, aos belos poemas em quatro mãos, de dedos calosos.
Naufraguei
no mar da insanidade. Vi entes que sobrepunham o real.
Eu
acreditei neles, solidifiquei nossos diálogos (que na realidade
Eram
apenas monólogos, para quem me ouvia, e não via interlocutor).
Sim,
eu vi meus pés flutuarem num céu escuro, época negra. Para alguns
Doentes:
passageira. Para outros: permanente. Embora me fosse uma saída
A
dita pura poesia. Eu emanava desespero, sorvia demência
Beijava
cacos de vidro, solidificava meus músculos dopados de medicação
Rumo
ao eletrochoque. Vamos! quem sabe uma lobotomia? Não.
Vi-me
tranquilizado numa cama de um hospital psiquiátrico, a ser tratado.
E por
solução celestial, que encontrei a verdadeira semente do real.
Pude
provar de seu gosto, apreciou meu paladar. Pude inebriar-me
De
sua dosagem diária, pois me deixava bem, fora das alucinações
E
dos monólogos pouco apreciados. Vi, meus caros, o verdadeiro gosto
Da
palavra que ressoa, em meus ouvidos, serena. Ai de mim se não fosse
A
dita musa de meus dias e minhas noites. Salve o composto “Olanzapina”
A
minha estrada de fuga de um mundo imaginário que me perseguia.
Uma
autoestrada que me leva rumo à minha verdadeira poesia, à minha vida.
(01/09/2013
– Ijuí)
Poeta!
ResponderExcluirAcredito que você tem superado a cada dia, versos e temas... encanta-me como a diversidade que trata temas polêmicos de forma lírica e clara...
É preciso cultivar a sanidade dentro de nós não importando a quantidade de pessoas que nos cercam , que nos apreciam ou que nos criticam , o melhor disto tudo é ver por uma janela de possibilidades e de vencer a cada dia nossos desafios.
Permita que muitos tenham acesso a este teu lírico e a teu eu maior ainda... O TEU EU REAL , pois aprecio a ambos.
FORMIDÁVEL!
Admirador