segunda-feira, 16 de setembro de 2013

ORVALHO LETAL

O orvalho se forma na crosta
Amarga e viscosa da solidão.
Nem sei mais eu se fico
Na beira da estrada, na contramão.

É o saudoso e pestilento bafo
Que o vento um dia soprara
Em minha cara. Não vejo
Não vejo vida, nem tenho mais
Não tenho nada.

A maquilagem negra da noite
Farta de luar, a lua cheia
Percebo, nesta imagem enegrecida
A minha juventude transfigurada.

Outrora o tempo (velho nas estações
Do ano) o tempo de estar bêbado
Caindo, tropeçando, sentindo o mundo
Agora vejo a minha juventude perdida
Nos confins, perdida nas vilosidades
Intestinais, sendo expelida
(massa fétida e pútrida) pelo anus
De um animal.


(13/09/2013 – Santa Maria)

Um comentário:

  1. Poeta!
    Assim como o orvalho deixa leves marcas de sua passagem, revela nestas palavras a sutileza do tempo, de momentos e da vida.
    Parabéns!
    Admirador

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